Que
país é esse?
Nos
últimos anos, o Brasil conheceu uma ascensão econômica acima da média mundial.
Tal desenvolvimento propiciou ao país, no início desse século, juntamente com
outros, a formação de um grupo chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China),
posteriormente acrescido da África do Sul passou a se chamar BRICS, as nações
que mais crescem na economia mundial, conhecidas como emergentes. É tão
relevante esse crescimento que, mesmo com a crise financeira dos Estados Unidos
em 2008, esses países pouco sentiram as conseqüências recessivas da economia
norte americana.
O
nosso país, que é representado pela primeira letra da sigla BRICS, atesta o seu
crescimento no mercado mundial, inerente a três fatores: abertura de mercado,
privatizações com a consequente estabilidade da moeda. Esses fatos fizeram
parte de uma política, iniciada nos anos 90 do século anterior, que ficou
conhecida como neoliberal, então liderada pelo ex-presidente Fernando Collor de
Melo.
O
processo neoliberalista adotado pelo governo alavancou a nossa economia nos
vinte anos posteriores, aumentando consideravelmente a influência financeira e
política do país na América do
Sul e no mundo, atraindo investimentos de muitas transnacionais, tanto pelo
capital especulativo, quanto pelo capital produtivo. O Brasil deixou de ser o
país do futuro, passando a ser o país do presente, chegando esse ano à sexta
economia mundial. Com todo esse atrativo, hoje somos palco de grandes eventos,
como convenções empresariais, fóruns ambientais, Campeonato Mundial de Futebol
2014, Olimpíadas 2016. Jamais imaginávamos que um país, o qual teve em décadas
anteriores inflações próximas a trilhões de por cento, estivesse atualmente
preocupado com uma inflação de 7% ao ano.
Um
Estado que de emigrante passou a imigrante, atraindo tanto os brasileiros que
emigraram na década de 80/90, quanto estrangeiros que veem no Brasil uma nação
de oportunidades. Estaríamos retornando ao século XIX, o novo Eldorado?
Independentemente
de sermos ou não um novo Eldorado, na verdade somos hoje juntamente com os
outros integrantes do BRICS o território do capitalismo, tendo em vista que o
mundo empresarial visualiza oportunidade através da mão de obra barata,
incentivos governamentais, mercado consumidor (amamos consumir) e outros. Todos
esses fatores somados são iguais a lucro e muito lucro.
Meu
Brasil do “pai dos pobres”, do “crescer 50 anos em 5”, do “ame-o ou deixe-o”,
do “milagre econômico”, do “país representado pelo presidente da juventude”, do
“Brasil sem miséria” e muitas outras idéias ufanistas. Todas as citações
anteriores os remetem provavelmente para políticos e politicalha como diria
saudoso Rui Barbosa, ao desenvolvimentismo e principalmente a propaganda como a
alma da alienação.
Essa
nossa nação é verdade ou mentira?
Vamos
utilizar a arte do pensar nestes últimos parágrafos e refletirmos sobre a
pergunta anterior.
O
Brasil apresenta o terceiro maior índice de desigualdade social do mundo, sendo
16 milhões de miseráveis (falta de necessidades básicas), entre esses, dez milhões
vivem com R$ 40,00 ao mês, mais da metade dos domicílios não possui qualquer
ligação com a rede coletora de esgoto e ainda um quarto da população não tem acesso
ao abastecimento de água. Não obstante lembrar que, graças aos projetos sociais
governamentais, esses índices, que já foram piores, tiveram uma significativa
melhora.
Quanto
à educação, o cenário é mais preocupante: em cada 100 brasileiros, 9 conseguem
um diploma de ensino superior. Para melhor entendimento desse caos educacional,
tomamos como exemplo o curso de engenharia no país, no qual 130 mil jovens
ingressam por ano, sobrando 50 mil vagas e apenas 30 mil conseguem se formar. O
restante desiste devido à necessidade de ingressar no mercado de trabalho,
falta de recursos para quitar as mensalidades ou até mesmo incapacidade com o ritmo
do curso. Outro dado relevante: dos 135 milhões de votantes no ano de 2010, 53%
não haviam concluído sequer o ensino fundamental. No entanto, o governo explora exacerbadamente
do poder midiático para difundir nosso avanço educacional.
No
tocante as propriedades rurais, os problemas não são diferentes, mais de 50% da
população detêm menos de 3%. É relevante ressaltar que, o emprego não é garantido pelos
latifúndios e muito menos pelo agronegócio, mas sim pelos pequenos e médios
agricultores que empregam 75% dos trabalhadores. Entretanto, nos últimos anos,
a discussão é o novo código florestal. Talvez o Congresso Nacional esteja
correto, não necessitamos de uma reforma agrária, provavelmente todos os
brasileiros estão satisfeitos com a distribuição de terras no país.
Então,
para avaliar o Brasil, é necessário que os extremos sejam compreendidos. É
analisar disparidades econômicas
acentuadas pelo nosso próprio processo histórico. Essas diferenças são
mascaradas pelos governos, que ludibriam a população através dos meios de
comunicação, omitindo a realidade de um país dominado por elites manipuladoras
da nossa sociedade. Por isso, conheça o seu, o meu, o nosso país.
Brasil,
“Meu Brasil brasileiro”, “Mostre a sua cara”, “Que país é esse?”
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